A Coordenação Nacional da CPT vem a público para manifestar sua
estranheza diante do "requentamento" por toda a grande mídia de um
fato ocorrido na segunda feira da semana passada, 28 de setembro, e
que foi noticiado naquela ocasião, mas que voltou com maior destaque,
uma semana depois, a partir do dia 5 de outubro até hoje.
Trata-se do seguinte: no dia 28 de setembro, integrantes do MST
ocuparam a Fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis
Paulista e Borebi, região central do estado de São Paulo. A área faz
parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares
divididos em várias fazendas e que pertencem à União. A fazenda Capim,
com mais de 2,7 mil hectares, foi grilada pela Sucocítrico Cutrale,
uma das maiores empresas produtora de suco de laranja do mundo, para a
monocultura de laranja. O MST destruiu dois hectares de laranjeiras
para neles plantar alimentos básicos. A ação tinha por objetivo chamar
a atenção para o fato de uma terra pública ter sido grilada por uma
grande empresa e pressionar o judiciário, já que, há anos, o Incra
entrou com ação para ser imitido na posse destas terras que são da
União.
As primeiras ocupações na região aconteceram em 1995. Passados mais de
10 anos, algumas áreas foram arrecadadas e hoje são assentamentos. A
maioria das terras, porém, ainda está nas mãos de grandes grupos
econômicos. A Cutrale instalou-se há poucos anos, 4 ou 5 mais ou
menos. Sabia que as terras eram griladas, mas esperava, porém, que
houvesse regularização fundiária a seu favor.
As imagens da televisão, feitas de helicóptero, mostram um trator
destruindo as plantas. As reações, depois da notícia ser novamente
colocada em pauta, vieram inclusive de pessoas do governo, mas,
sobretudo, de membros da bancada ruralista que acusam o movimento de
criminoso e terrorista.
A quem interessa a repetição da notícia, uma semana depois?
No mesmo dia da ação dos sem-terra foi entregue aos presidentes do
Senado e da Câmara, um Manifesto, assinado por mais de 4.000 pessoas,
entre as quais muitas personalidades nacionais e internacionais,
declarando seu apoio ao MST, diante da tentativa de instalação de uma
CPMI para investigar os repasses de recursos públicos a entidades
ligadas ao Movimento. Logo no dia 30, foi lido em plenário o
requerimento para sua instalação, que acabou frustrada porque mais de
40 deputados retiraram seu nome e com isso não atingiu o número
regimental necessário. A bancada ruralista se enfureceu.
A ação do MST do dia 28, que ao ser divulgada pela primeira vez não
provocara muita reação, poderia dar a munição necessária para
novamente se propor uma CPI contra o MST. E numa ação articulada entre
os interesses da grande mídia, da bancada ruralista do Congresso e dos
defensores do agronegócio, se lançaram novamente as imagens da
ocupação da fazenda da Cutrale.
A ação do MST, por mais radical que possa parecer, escancara aos olhos
da nação a realidade brasileira. Enquanto milhares de famílias sem
terra continuam acampadas Brasil afora, grandes empresas praticam a
grilagem e ainda conseguem a cobertura do poder público.
Algumas perguntam martelam nossa consciência:
Por que a imprensa não dá destaque à grilagem da Cutrale?
Por que a bancada ruralista se empenha tanto em querer destruir os
movimentos dos trabalhadores rurais? Por que não se propõe uma grande
investigação parlamentar sobre os recursos repassados às entidades do
agronegócio, ao perdão rotineiro das dívidas dos grandes produtores
que não honram seus compromissos com as instituições financeiras?
Por que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), declarou, nas eleições ao
Senado em 2006, o valor de menos de oito reais o hectare de uma área
de sua propriedade em Campos Lindos, Tocantins? Por que por um lado, o
agronegócio alardeia os ganhos de produtividade no campo, o que é uma
realidade, e se opõe com unhas e dentes á atualização dos índices de
produtividade? Por que a PEC 438, que propõe o confisco de terras onde
for flagrado o trabalho escravo nunca é votada? E por fim, por que o
presidente Lula que em agosto prometeu em 15 dias assinar a portaria
com os novos índices de produtividade, até agora, mais de um mês e
meio depois, não o fez?
São perguntas que a Coordenação Nacional da CPT gostaria de ver respondidas.
Goiânia, 7 de outubro de 2009.
Coordenação Nacional da CPT
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