sábado, 5 de abril de 2008

Oitavo mandamento: Mentirás

Bom texto do Eduardo Galeano que reproduzo abaixo:

Oitavo mandamento: Mentirás

por Eduardo Galeano

Uma mentira

Até há pouco os grandes media brindavam-nos, a cada dia, números alegres acerca da luta internacional contra a pobreza. A pobreza estava a bater em retirada, ainda que os pobres, mal informados, não soubessem da boa notícia. Os burocratas mais bem pagos do planeta estão a confessar, agora, que os mal informados eram eles. O Banco Mundial divulgou a actualização do seu International Comparison Program . Neste trabalho participaram, juntamente com o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, as Nações Unidas, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico e outras instituições filantrópicas.

Ali os peritos corrigem alguns errozinhos dos relatórios anteriores. Entre outras coisas, ficamos a saber agora que os pobres mais pobres do mundo, os chamados "indigentes", somam 500 milhões mais do que os que apareciam nas estatísticas. Além disso, ficamos a saber que os países pobres são bastante mais pobres do que aquilo que diziam os numerozinhos e que a sua desgraça piorou enquanto o Banco Mundial lhes vendia a pílula da felicidade do mercado livre. E como se isso fosse pouco, verifica-se que a desigualdade universal entre pobres e ricos havia sido mal medida e à escala planetária o abismo é ainda mais fundo que o do Brasil.

Outra mentira


Ao mesmo tempo, um ex vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, num trabalho conjunto com Linda Bilmes, investigou os custos da guerra do Iraque. O presidente George W. Bush havia anunciado que a guerra poderia custar, quando muito, 50 mil milhões de dólares, o que a primeira vista não parecia demasiado caro tratando-se da conquista de um país tão rico em petróleo. Eram números redondos, ou melhor, quadrados. A carnificina do Iraque dura há mais de cinco anos e, neste período, os Estados Unidos gastaram um milhão de milhões de dólares matando civis inocentes. A partir das nuvens, as bombas matam sem saber quem. Sob a mortalha de fumo, os mortos morrem sem saber porque. Aquele número de Bush chega para financiar apenas um trimestre de crimes e discursos. O número mentia, ao serviço desta guerra, nascida de uma mentira, que continua a mentir.

E mais outra mentira

Quando todo o mundo já sabia que no Iraque não havia mais armas de destruição maciça do que as que utilizavam os seus invasores, a guerra continuou, ainda que houvesses esquecido os seus pretextos. Então, a 14 de Dezembro do ano 2005, os jornalistas perguntar quantos iraquianos haviam morrido nos dois primeiros anos de guerra. E o presidente Bush falou do assunto pela primeira vez. Respondeu:

— Uns 30 mil, mais ou menos.

E a seguir fez uma piada, confirmando o seu sempre oportuno sentido do humor, e os jornalistas riram-se.

No ano seguinte, reiterou o número. Não esclareceu que os 30 mil referiam-se aos civis iraquianos cuja morte havia aparecido nos diários. O número real era muito maior, como ele bem sabia, porque a maioria das mortes não se publica, e bem sabia também que entre as vítimas havia muitos velhos e crianças.

Essa foi a única informação proporcionada pelo governo dos Estados Unidos sobre a prática do tiro ao alvo contra os civis iraquianos. O país invasor só faz contas, detalhadas, dos seus soldados caídos. Os demais são inimigos, ou danos colaterais que não merecem ser contados. E, em todo caso, contá-los poderia ser perigoso: essa montanha de cadáveres poderia causar má impressão.

E uma verdade

Bush vivia seus primeiros tempos na presidência quando, a 27 de Julho do ano 2001, perguntou aos seus compatriotas:

— Podem vocês imaginar um país que não fosse capaz de cultivar alimentos suficientes para alimentar a sua população? Seria uma nação exposta a pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. E por isso, quando falamos da agricultura americana, na realidade falamos de uma questão de segurança nacional.

Essa vez, o presidente não mentiu. Ele estava a defender os fabulosos subsídios que protegem o campo do seu país. "Agricultura americana" significava e significa "Agricultura dos Estados Unidos".

Contudo, é o México, outro país americano, o que melhor ilustra os seus acertados conceitos. Desde que firmou o tratado de livre comércio com os Estados Unidos, o México já não cultiva alimentos suficientes para as necessidades da sua população, é uma nação exposta a pressões internacionais e é uma nação vulnerável, cuja segurança nacional corre grave perigo:
- actualmente o México compra aos Estados Unidos 10 mil milhões de dólares de alimentos que poderia produzir;
- os subsídios proteccionistas tornam impossível a competição;
- por esse andar, daqui a pouco a tortillas mexicanas continuarão a ser mexicanas pelas bocas que as comem, mas não pelo milho que as faz, importado, subsidiado e transgénico;
- o tratado havia prometido prosperidade comercial, mas a carne humana, camponeses arruinados que emigram, é o principal produto mexicano de exportação.

Há países que sabem defender-se. São poucos. Por isso são ricos. Há outros países treinados para trabalhar para a sua própria perdição. São quase todos os demais.

O original encontra-se em http://www.pagina12.com.ar/diario/contratapa/13-101340-2008-03-27.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bolsa Banqueiro x Bolsa Família

Toda a oposição ao atual governo, inclusive a chamada oposição de esquerda, ataca um dos principais programas do governo: o bolsa-família.

Pois eu digo sem medo de parecer governista que o bolsa família é um exelente programa, óbvio que pode ser melhorado, mas para quem não tinha nada ter alguma coisa é um ganho fenomenal e alguns setores da esquerda não conseguem perceber isto e talvez esteja aí a razão de suas críticas muitas vezes serem incompletas.

É um programa paliativo? É, mas quem tem fome tem pressa, já dizia o velho Betinho. Mas mesmo este programa paliativo já incluiu uma cacetada de gente que antes não tinha oportunidades de acesso a alguns bens básicos e hoje os alcança.

A solução de maior folêgo e estruturante para a sociedade brasileira necessita de uma política ativa de geração de emprego que, inclusive, libertará, no médio prazo, muitos destes cidadãos do bolsa-família. Passa ainda por uma política educacional incisiva para que os filhos dos beneficiários do bolsa-família sejam suficientemente qualificados para não necessitarem deste tipo programa governamental.

E por que isso não ocorre? Por causa do Bolsa Banqueiro!

Explico-me: a questão é, ficamos tão neuróticos com combate a inflação que esta se tornou a única questão econômica relevante na agenda pública nos últimos. Uma busca fundamentada numa teoria econômica que preza, acima de tudo o equilíbrio, logo se os preços aumentam, pouco que seja o equilíbrio se esvai, e toma-lhe política monetária e fiscal contracionista. Esquecem-se que um economistazinho inglês do século passado, um tal de Keynes, lembrou que esse equilíbrio pode ocorrer concomitantemente a altas taxas de desemprego, aí a vaca vai pro brejo.

Êpa, mas peraí!
O que isso tem a ver com Bolsa Banqueiro? Simples, o governo tem um dívida (que deveria ter sido auditada segundo a nossa constituição) que ele mesmo estipula os juros dela.
Se fosse você o que faria? Diminuiria esses juros, certo?
Mas o que o governo faz? Aumenta. Aí, essa dívida cresce porque os juros estão entre os mais altos do mundo, nunca tendo saído do pódio (três primeiros lugares).
Obviamente ninguém (os credores) acredita que o governo poderá pagar essa dívida porque ela não para de crescer, então para dar credibilidade a esses credores inventaram um tal de superávit primário. O governo não pode gastar mais do que arrecada pra pagar essa dívida, dizem eles que se na nossa casa é assim, no governo também tem que ser, mas essa conta não é tão simples assim(mais embaixo eu explico um pouco mais sobre isto). O fato é que esse dinheiro do superávit primário sai da escola, do hospital, das estradas e vai para o bolso dos credores que sem nenhum esforço ganham uma bolada, está configurado o "Bolsa Banqueiro", inventado por tucanos e aperfeiçoado nas estrelas.

Explicando aquela conta ali de cima que eu falei sobre o governo gastar mais do que arrecada. O problema é o seguinte, eles dizem que com o Superávit Primário o governo estaria gastando menos do que arrecada, isso é mentira! O que ocorre na verdade é uma opção de gasto, em vez de saúde e educação, reforma agrária e estradas, etc. os últimos governos optaram que o bolsa banqueiro é mais importante.

Só a título de comparação no último orçamento a Saúde somada com a Educação não ultrapassou os 80 bilhões de reais. Enquanto isso o Bolsa Banqueiro foi contemplado com mais de 300 bilhões, comparar com os 16 bi do Bolsa-Família e de outros Programas sociais, chega a ser maldade.

Enfim, o bolsa banqueiro é o maior programa de redistribuição de renda do mundo, só que esse tira dos pobres e remediados para dar para os muito ricos.

E pra não dizer que é papo furado meu, clique aqui para baixar e ler um interessante artigo do pesquisador do IPEA Ronaldo Coutinho Garcia sobre as despesas correntes da União.

A luta continua e a vitória é certa!

Mentiras de "O Globo" em relação ao MST - Esclarecimento da ANCA

Há alguns dias atrás nossa imprensa burguesa em sua saga anti-MST publicou uma notícia falaciosa, como eles tem uma opção de classe definida, mostram apenas o próprio lado, eis aqui o que diz o outro lado:

"Carta de Esclarecimento da ANCA aos Amigos e Entidades Parceiras da REFORMA AGRÁRIA.

Hoje, dia 28 de março de 2008, no Jornal O Globo, saiu uma reportagem difamando o trabalho de Alfabetização da ANCA acusando-a de desvios de recursos públicos.

Queremos esclarecer aos nossos amigos e parceiros, que a MATÉRIA é MENTIROSA, assim como a fiscalização feita pelo TCU, está carregada de preconceito ideológico contra os trabalhadores rurais assentados.

O que diz a MIDIA e o TCU e O que REAFIRMAMOS COMO VERDADE – com comprovação documental que se encontram no processo de prestação de contas no MEC:

1. Que houve desvio de finalidade e recursos para as Secretarias Estaduais do MST

A ANCA teve convênios com o MEC (desde 1999), e sempre realizou um processo seletivo, escolhendo as entidades ESTADUAIS com experiência de educação nos assentamentos, como forma de repasse dos recursos para os alfabetizadores. Temos cópia de TODOS OS CONTRATOS com cada uma das entidades. A Lei 8666 exige licitação ou processo análogo.
Nós fizemos o processo análogo – o processo seletivo das entidades jurídicas estaduais.

2. Não há comprovação da existência do trabalho de alfabetização:

Temos a relação de CADA ALUNO, um por um, nome a nome, nome dos Pais, Município, Assentamento, data de nascimento. E o cadastro dos EDUCADORES, cerca de 2 mil educadores, como endereço, RG/CPF.
Em 2005 este processo foi informatizado pelo MEC, e estas listas encontram-se no site do MEC, no Programa Brasil Alfabetizado (acesso com senha de cada ONG parceira do Programa).

3. Não Há comprovantes de Pagamento dos Educadores:

Entregamos ao MEC, uma FOLHA DE PGMENTO, mensal, de cada estado, onde constam os nomes dos Educadores, que recebiam um valor mensal de 120,00, acrescidos de 7,00 por aluno ( na sua turma, com um máximo de 20 alunos por turma). Este pagamento foi feito pela ANCA para cada Estado, conforme o envio das Folhas de Pagamento.

4. Não há comprovação de Freqüência dos alunos e que os mesmos foram de fato alfabetizados:

Temos as Chamadas ( lista de freqüência) de cada turma, com nome e assinatura da Educadora por turma e assentamento.

Atenciosamente.

ANCA"

Lembrando que "A Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) é uma entidade não-governamental sem fins lucrativos que atua em diferentes áreas para o benefício de milhares de trabalhadores rurais de diversos movimentos e sindicatos. Trabalha com projetos de educação rural, saúde, cultura, produção e comercialização agrícola. Em parceria com os movimentos sociais, a Anca já alfabetizou, desde 1989, mais de 125 mil jovens e adultos em assentamentos de reforma agrária espalhados pelo Brasil. Em 1995, a Anca recebeu o prêmio Itaú Unicef com o projeto "Por uma Escola Pública de Qualidade nas Áreas de Assentamento"."

Lembrando mais uma vez o camarada Lenin: "Os capitalistas chamam 'liberdade' a dos ricos de enriquecer e a dos operá-rios para morrer de fome. Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública."

Daniel Dantas e o Capitalismo Brasileiro

Quem me conhece sabe que o que eu não gosto no Governo Lula são suas semelhanças com o anterior de, numa linha Harry Potter, Você-sabe-quem (não se deve falar ou escrever o nome dele, dá azar).

Para quem tem dúvidas desse grau de parentesco tucano-petista, recomendo pesquisar por sobre as operações no ramo das telecomunicações das privatizações tucanas ao novo megaempreendimento capitalista brasileiro conhecido como BrOi que vem entusiasmando muita estrela por aí.

Como eu não sou jornalista, recomendo a leitura do blog do Paulo Henrique Amorim, clicando aqui, onde o prezado leitor encontrará muitas informações sobre a BrOi.

O que eu acho intrigante é surpreendente presença do banqueiro Daniel Dantas em todas essas artimanhas.

Já temos o bolsa-banqueiro, os bilhões que faltam na saúde, educação, investimento estatal, etc. que, com o pagamento de juros e amortizações de uma dívida que deveria ser auditada, vão direto para os bolsos daqueles que vivem na orgia do ciclo financeiro do capitalismo (o D-D' que o velho Marx nos ensinou).

E agora nos surge mais esta, esse Daniel Dantas é realmente o cara, se deu bem nas privatizações do tucanato, consegue proteções no STF (a ministra Ellen Gracie que explique porque não libera as informações do disco rígido de Dantas à PF) e um grande apoio em fusões estreladas. Realmente, é o cara! Quando eu crescer quero ser que nem ele...

Por hora é só, mas aguardem que em breve eu vou falar do Bolsa-banqueiro x Bolsa-família, o que eu quero pro Brasil.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Trabalho Escravo? REFORMA AGRÁRIA JÁ!

Importante a divulgação!

"Amigos e amigas,

Há 13 anos tramita no Congresso uma proposta de emenda constitucional que prevê o confisco das terras de escravagistas e sua destinação para a reforma agrária. No dia 12 de março, entidades que atuam na luta contra o trabalho escravo realizaram, em Brasília, uma mobilização envolvendo cerca de mil pessoas seguida de um abraço simbólico no prédio do Congresso para tentar pressionar os parlamentares.

Deputados e senadores da bancada ruralista têm atrapalhado o andamento do processo e a dificuldade para vencer essa oposiç ão é grande. Eles colocam a propriedade acima da dignidade, o lucro acima da vida. Recentemente, consideraram o projeto (PEC 438/2001) como a quarta proposta legislativa na lista das que mais podem trazer danos ao agronegócio.

O Movimento Nacional pela Aprovação da PEC do Trabalho Escravo começou um abaixo-assinado para pressionar o parlamento e fazer a proposta andar. Ele já estava circulando em papel e agora há uma versão eletrônica. A intenção é atingir um milhão e entregar à Câmara dos Deputados como forma de pressão.

www.reporterbrasil.org.br/abaixo-assinado.php

Pedimos que você repasse esta mensagem a todos os seus contatos.

Atenciosamente,

Movimento Nacional pela Aprovação da PEC do Trabalho Escravo"

segunda-feira, 31 de março de 2008

Sobre o conflito na Argentina

Para saber o que estar por trás dos conflitos em terras Argentinas,
recomendo acessar:

www.pagina12.com.ar/diario/suplementos/cash/index.html

Lembrando mais uma vez uma frase do camarada Lenin: "Os capitalistas chamam 'liberdade' a dos ricos de enriquecer e a dos operá-rios para morrer de fome. Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública."

Pena que no Brasil não existam jornais como o Página 12.

Mídia Alternativa

Texto interessante que recebi por correio eletrônico.

Novos rumos para a imprensa alternativa
Rodrigo Savazoni - Publicado originalmente no blog do autor
12.03.2008

São Paulo. Dia 8 de março. Nas ruas do centro da cidade, militantes realizam uma marcha em comemoração ao dia internacional das mulheres.

Sem o mesmo agito, no Maksoud Plaza, hotel de luxo a uma quadra da Avenida Paulista, jornalistas (com predomínio absoluto dos homens) da imprensa alternativa (ou de esquerda como muitos preferem) passam o dia conversando, sem uma pauta pré-definida, sobre a situação da comunicação no país e no mundo.

O encontro, na avaliação do professor Bernardo Kucinski, autor de Jornalistas e Revolucionários – Nos tempos da Imprensa Alternativa e ex-funcionário da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, foi histórico. Disse ele que jamais participou de uma iniciativa como aquela em 40 anos de carreira jornalística.

No salão refrigerado, 42 jornalistas, professores ou simplesmente pessoas atuantes na área das comunicações, de diferentes regiões do Brasil, expuseram suas idéias e contaram seus casos, de vitórias e derrotas.

A concentração era de personalidades do eixo Rio Grande do Sul – São Paulo – Rio de Janeiro, com a exceção de Ermano Allegri, da Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital), que destacou a importância de envolver outras regiões do país, especialmente do Norte e Nordeste, nas próximas conversas, reais e virtuais.

Ao fim, após intervenção do jornalista Altamiro Borges, do portal Vermelho, ficou acertado que o encontro resultaria na elaboração de um relato (realizado por Flávio Aguiar) a ser compartilhado entre todos os participantes. A partir desse relato, seria produzia uma carta, cujo destinatário não foi definido (pode ser o governo, o presidente ou a sociedade em geral). Também formou-se uma comissão executiva para pensar a próxima reunião, que deve ocorrer no Rio de Janeiro.

Esses foram os resultados concretos.

No ar, ficou a idéia de uma articulação institucional dos alternativos, como resultado da evolução do processo, a Associação Brasileira de Mídia Alternativa (Asbrama).

Também muito se falou na necessidade de utilizar a internet para fortalecer a atividade de todos, e também na necessidade de aproximação com emissoras de rádio e TV. Outro tema que dominou o diálogo foi a formação dos jornalistas.

Um encontro assim seria impensável anos atrás?

Considerando o fato de as iniciativas feitas pelo Intervozes para articular a imprensa alternativa não terem avançado, a resposta é: sim. O coletivo realizou um seminário com grande público no Fórum Social Brasileiro, em Belo Horizonte, para justamente debater caminhos conjuntos para os veículos alternativos. Na seqüência, foram organizadas reuniões – algumas ocorreram -, montou-se uma lista de discussão, elencou-se ações objetivas, mas o esforço não apontou para convergências.

O que mudou de lá para cá, na minha avaliação, é a expectativa que tinham todos esses veículos em relação ao governo Lula. Em sua maior parte, apoiadores do projeto de poder que levou o Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência, acreditavam que o governo desenvolveria algum programa para democratizar as verbas de publicidade, que engordam os cofres da imprensa e da mídia comercial. Isso não ocorreu, e boa parte dos veículos vivem à míngua, em xeque.

A prova disso que digo é o fato de o encontro de sábado ter sido chamado pelo advogado Joaquim Palhares, um empresário comprometido com as causas sociais, petista histórico, que fez da Carta Maior a mais importante experiência recente de produção de jornalismo alternativo. Carta Maior não sobreviveu à falta de anunciantes e apoio e, no final do ano passado, desarticulou sua profissional redação, que contava com gente do primeiro time da comunicação brasileira.

A derrocada de Carta Maior, que permanece no ar desfigurada de seu projeto de reportagens, é semelhante a de outras publicações. Allegri, na reunião, destacou que a Adital teria recursos suficientes para sobreviver por no máximo mais seis meses. Outras experiências encontram-se na mesma fronteira.

Isso, no entanto, não fez com que o debate se concentrasse apenas em formas de garantir remuneração a esses projetos, mas esse tema tenha surgiu em vários momentos da discussão. É importante que isso seja debatido, mas é fundamental também que esse debate venha acompanhado da idéia de independência. Os veículos alternativos precisam, acima de tudo, de independência editorial.

A agenda, a mídia e a democracia

Essa difícil situação poderia engendrar um processo rancoroso. Por isso, surpreendeu-me que não tenha sido um encontro de exclusiva contraposição à grande imprensa (ou à mídia burguesa no jargão classista), o que seria até normal, considerando o clima de flaxflu que marca o debate contemporâneo.

Ainda que essa contraposição – capitaneada nos últimos tempos por Paulo Henrique Amorim (contraditoriamente funcionário da TV Record, a que mais cresce no Brasil) e seu discurso simplificante – encontre partidários entre os alternativos, as bandeiras desfraldadas foram muitas e as abordagens múltiplas.

Muito se falou na agenda. Ou seja, nos temas que são recorrentemente abordados e debatidos no espaço público por obra dos meios de comunicação. Da necessidade de se construir uma agenda alternativa.

Acho esse um excelente debate, desde que venha no plural: construção de agendas. O resto é o velho choque de agenda que marca a relação entre mídia e poder, com pequenas variações. A construção de uma pauta alternativa, no entanto, é assuntos dos mais importantes. Mas essa pauta só irá emergir de um debate radicalmente crítico, não do choque de teses. Liberdade é a palavra-chave.

Coube ao jornalista Cláudio Cerri a mais inovadora leitura sobre a crise da agenda neoliberal. Em sua avaliação, os veículos de comunicação privados não mais querem impor uma agenda para a sociedade, mas sim impedir que sua agenda superada seja varrida do mapa.

“O que não é o mercado é corrupção”, sintetizou Cerri. O problema, no entanto, é o quanto essa agenda foi internalizada, em processos do estado brasileiro, por obra do próprio governo Lula, e seu pragmatismo. Nesse caso, não há choque de agendas, mas sim convergência de expectativas. E isso a imprensa alternativa deveria apontar.

André Singer, que foi secretário de imprensa do governo Lula, falou da importância de um jornalismo de esquerda crítico e apartidário. Na sala, havia bons e nanicos exemplos disso. “A imprensa é conservadora mas não antidemocrática”, disse.

A frase de Singer, além de desbancar a tese de golpismo, aponta para o futuro. Aos alternativos, resta serem democráticos e progressistas, contribuindo para que o debate público avance. Isso, num cenário de adensamento informativo, requer meios. Ou seja, é preciso ser grande. Alternativo não é sinônimo de nanico, não precisa ser.

Internet, juventude e o discurso pós-moderno

O encontro demonstrou que há, hoje, mais que ontem, uma disposição dos alternativos de abdicar de cacoetes discursivos que impedem a ampliação do debate e, conseqüentemente, limitam o papel desses meios no espaço público. Na era do estilhaçado, em que a realidade projeta-se através de um prisma de possibilidades, a unidade de ação (“frente ampla”) tornou-se old fashion.

No sábado, a idéia de uma só voz foi substituída pelas pós-modernas ninfas: diversidade e pluralidade. Termos como colaboração, agregação e compartilhamento foram usados recorrentemente.

Era um encontro de, sobretudo, homens com mais de 50 anos. A juventude, ali, aparecia com projeção, uma idéia, algo remoto. O discurso que se fez sobre os jovens demonstra total falta de contato de boa parte desses baluartes com a revolução que está em curso: a revolução da internet.

Ainda que muitos tenham falado na importância da rede para o futuro de seus empreendimentos – muitos deles há muito tempo existem apenas no ciberespaço – percebe-se que poucos têm contato com o que se convencionou chamar de web 2.0.

Em minha fala, único participante do encontro com menos de 30 anos, defendi que é preciso pensar o processo de formação da imprensa alternativa em duas vias: 1. sim, aproximar os jornalistas e veículos alternativos das escolas de comunicação e de outros espaços nos quais a juventude esteja produzindo informação; 2. Mas, fundamentalmente, é preciso aprender com os jovens. A imprensa alternativa precisa descer de seu pedestal e vir aprender a usar blogs, videocasts, podcasts, a interagir com o leitor, a desenvolver dinâmicas participativas, redes sociais, a usar twitter etc.

Ao tomarem contato com esse outro mundo, os alternativos perceberão que a imprensa alternativa se processa numa miríade de pequenas experiências.

É preciso agir sobre esse universo, pautá-lo, de forma interativa, aceitando que o mundo atual não prevê caminhos centralizados, que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) são filhas da anarquia, que são o resultado do esforço de gerações que raptaram os produtos da indústria bélica e deram a eles uso social, que isso tudo pode e deve estar ao alcance de todos (essa, a nossa grande bandeira).

Vela a lista de participantes:

Adalberto Marcondes (agência Envolverde), Altamiro Borges (Vermelho), André Singer (jornalista e cientista político – USP), Antônio Biondi (site o Brasil de Aloysio Biondi / Intervozes), Antônio Martins (Diplô Brasil). Bia Barbosa (Intervozes) Bernardo Kucinski (professor da ECA); Carlos Azevedo (Revista Retratos do Brasil); Celso Horta (ADCD Maior - http://www.abcdmaior.com.br/); Dario Pignotti (Ansa, Página 12 e Manifesto); Denise Tavares (professora PUC Campinas); Elma Bonés (Jornal Já); Enio Squeff (artista plástico e jornalista) ; Emiliano José (professor da UFBA). Ermano Alegri (Adital); Flávio Diegues (Diplô Brasil); Flávio Tavares (jornalista e professor aposentado da UNB); Flavio Aguiar (Carta Maior); Geraldo Canalli (jornalista e professor da UFRGS); Gilberto Maringoni (professor da Cásper Libero); Gustavo Gindre (Intervozes); Hamilton de Souza (PUC-SP); Inácio Neutzling (Revista IHU da Unisinus); Ivana Bentes (professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ); João Pedro Dias (professor da UERJ), Joaquim Palhares (Carta Maior), Laurindo Leal Filho (Programa Ver TV e ECA-USP); Leonardo Sakamoto (Repórter Brasil); Luiz Carlos Azenha (Blog Vi o Mundo); Marco Antonio Araújo (jornalista); Marcos Dantas (professor de jornalismo da PUC-Rio); Mauro Santayana (jornalista); Neutair Abreu (mais conhecido como Santiago, chargista); Paulo Salvador (Revista do Brasil), Renato Rovai (pela Revista Fórum); Rodrigo Savazoni (Intervozes - Em Busca da Palavra Justa); Sérgio Gomes (Oboré); Sérgio Souto (Monitor Mercantil); Tadeu Arantes (jornal Diplô Brasil); Verena Glass (jornalista e colaboradora da Carta Maior).