sábado, 26 de julho de 2008

Agora tá explicado... (sobre distribuição de renda e bolsa-banqueiro)

Não entendia como a distribuição de renda tinha melhorado se o Brasil possui o maior programa de concentração de renda do mundo (o bolsa banqueiro).

Nada como alguém com tempo para esmiuçar detalhes que não percebemos por não buscarmos as informações na fonte.

Ou seriam os textos abaixo mais desinformação?

Duas opções: A) Acredite na fonte que você quiser ou preferir ou B) Consulte você mesmo os dados do PNAD, base do estudo do IPEA, no sítio do IBGE (www.ibge.gov.br)... depois me contem suas conclusões.

Jornal O DIA, Rio de Janeiro, 25 de junho- colunistas.

SOMOS A SOCIEDADE MAIS DESIGUAL DO MUNDO

João Pedro Stédile

O Instituto de pesquisas econômicas aplicadas –IPEA apresentou um importante estudo sobre a distribuição de renda no Brasil, com dados atualizados até 2007. Honra e mérito ao seu presidente economista Marcio Pochmann, que é um especialsita do tema. Mas a imprensa, ao divulgar, fez verso e prosa para dizer que a desigualdade social no Brasil estava diminuindo. Ledo engano. Afinal, como aprendi na faculdade, os economistas somos especialistas em manipular estatísticas.

Vejam o que mudou. Em 2003, o rendimento médio dos dez por cento que ganham salários mais altos era de 4.620,oo reais. Passou para 4.850,oo em 2007. Os dez por cento de trabalhadores mais pobres que ganhavam menos, passaram de 169 reais para 206 reais em média, por mês, em 2007. A desigualdade entre os assalariados, de fato caiu, de 27,3 vezes entre os mais bem pagos e os menos pagos, para 23, 5 vezes. Mas ainda ainda assim é uma vergonha.

No entanto, não é isso que mede a desigualdade social e a renda. Isso mede apenas entre os que ganham salários. Mas não inclui a renda de lucro, juros, alugueis, redimento de açoes, royalties,etc.

A verdadeira distribuição de renda na sociedade se mede, pela comparação de toda riqueza produzida num ano: o PIB. E como ela é distribuída. Pois bem, na década de 60, o trabalho ficava com 50% de tudo o que se produzia e 50% para o capital. Em 2003, o trabalho ficou com apenas 39,8 % e o capital 60,2%, e agora em 2007, o trabalho ficou com 39,1% e o capital subiu ainda mais para 60,9% de tudo o que se produz no Brasil. E do jeito que os bancos e as empresas transnacionais andam ganhando dinheiro, certamente vamos chegar em 2010, com uma diferença ainda maior.

Lamentavelmente, sai governo, entra governo e o Brasil continua sendo a sociedade mais injusta do planeta.


ENQUANTO ISSO...


Estado de sao paulo, 25 de junho de 2008

Brasil tem 23 mil novos milionários
<span style="font-weight:bold;">
Em 2007, número de pessoas com fortuna acima de US$ 1 milhão cresceu 19,1%, para 143 mil, diz estudo


Ricardo Leopoldo

Vinte e três mil novos brasileiros entraram para o clube dos milionários no ano passado. Agora, são 143 mil pessoas com fortuna acima de US$ 1 milhão - 19,16% a mais que no ano anterior, que já havia registrado um forte avanço. Os dados são do 12º Relatório Anual sobre a Riqueza Mundial, realizado pela Merrill Lynch e CapGemini.

O Brasil foi o terceiro país do mundo com o maior crescimento do número milionários, graças a um ambiente econômico mais estável e propício para os negócios. A economia cresceu 5,4%, os investimentos das empresas aumentaram e o mercado acionário explodiu.

A Bolsa de Valores de São Paulo fez uma nova geração de ricos - de investidores pessoa física a empresários que venderam ações de suas empresas. Em 2007, o Ibovespa acumulou alta de 43,6%, após superar por 43 vezes suas máximas históricas de pontuação. No ano, 64 empresas abriram capital (40 a mais que em 2006) e levantaram R$ 55,5 bilhões. Parte desse dinheiro foi para o bolso dos acionistas.

O número de pessoas que possuem grandes fortunas no País subiu de 120 mil em 2006 para 143 mil no ano passado. "Os fluxos líquidos de capital privado duplicaram para a América Latina em 2007, contribuindo para o fato de a Bovespa ter alcançado a quarta posição no ranking entre os maiores mercados mundiais para operações de abertura de capital (IPOs)." Isso, de acordo com o relatório, deu suporte para o estabelecimento e integração global do sistema financeiro brasileiro, informaram as duas instituições responsáveis pelo estudo por meio de um comunicado.

A América Latina, ainda segundo o documento, registrou um aumento de 12% em 2007 ante 2006 no número de pessoas com grandes fortunas, conhecido pela sigla em inglês de HNWIs (High Net Worth Individuals). No caso do Brasil, os principais fatores que contribuíram para o incremento do total de cidadãos que possuem ativos financeiros acima de US$ 1 milhão foi o avanço do consumo interno.

O estudo destaca que o desenvolvimento de obras em infra-estrutura e incentivos do governo para o setor de construção civil, como a queda de impostos sobre materiais de construção, geraram um "boom" do segmento no País.

A Merrill Lynch e CapGemini ressaltam que também colaboraram a redução do desemprego e a valorização do câmbio, que diminuiu os custos de importações de máquinas e bens de consumo. Os juros elevados também foram um fator atraente para o aumento dos investimentos, especialmente em aplicações de renda fixa.

As receitas externas obtidas com as exportações ajudaram a melhorar os fundamentos macroeconômicos do Brasil, pois geraram superávits comerciais que contribuíram para o avanço das reservas cambiais, que estão em US$ 198,86 bilhões.

MUNDO

Em todo o mundo, o número de pessoas que possuem pelo menos US$ 1 milhão em ativos financeiros subiu 9,4% no ano passado, atingindo o montante total de US$ 40,7 trilhões. O número de milionários no planeta já chega a 10,1 milhões de pessoas, um incremento de 6% sobre o total apurado pela pesquisa realizada em 2006.

O estudo apontou também que a média de recursos em poder de cada uma dessas pessoas superou os US$ 4 milhões pela primeira vez, e indicou que subiu 8,8% o número de pessoas que possuem fortunas superiores a US$ 30 milhões em aplicações financeiras.

O estudo projeta que o montante de riquezas apuradas pelas pessoas com grandes patrimônios financeiros deve crescer a uma taxa média anual de 7,7% até 2012, quando deve atingir um volume global de US$ 59,1 trilhões.

AVANÇOS EM 2007

143 mil
brasileiros tinham fortuna acima de US$ 1 milhão

19,16%
foi o crescimento do número de milionários ante 2006

12%
foi o crescimento do número de milionários na América Latina em relação ao ano anterior

5,4%
foi o crescimento da economia brasileira

43,6%
foi a valorização do Ibovespa, após superar 43 vezes suas máximas históricas de pontuação

64 empresas
abriram capital na Bolsa de Valores de São Paulo

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Entrevista João Pedro Stédile

Segue abaixo os enlaces para a entrevista do João Pedro Stédile no programa Canal Livre da Rede Bandeirantes.

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4


Parte 5


Parte 6


Parte 7 (última)

domingo, 20 de julho de 2008

Outras causas para a inflação

Segue abaixo uma educativa matéria do Caderno Dinheiro da FSP:

Folha de S.Paulo - Com dólar fraco, EUA "exportam" inflação, afirmam economistas - 20/07/2008
www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2007200810.htm
Com dólar fraco, EUA "exportam" inflação, afirmam economistas

Enxurrada de moeda americana fez emergentes comprarem mais commodities

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os países ricos responsabilizam os emergentes -em particular a China, que coloca 200 milhões de pessoas ao ano no mercado consumidor- pela escalada no preços dos alimentos e de commodities em geral. O consumo chinês, no caso, seria o grande "exportador" de inflação ao restante do mundo.
Para alguns economistas, como Jeffrey Frankel, especialista em commodities da Universidade Harvard, a China só está repatriando agora uma inflação exportada pelo menos desde os anos 80 pelos EUA, por meio da desvalorização do dólar -que reequilibra seu déficit comercial- e pela política de juros baixos -que controla o déficit fiscal, agravado nos anos George W. Bush pela guerra no Afeganistão e depois no Iraque.
"Os EUA exportaram inflação para o restante do mundo, levando os preços em dólares das commodities a decolarem. Há um ano, as expectativas de crescimento do mundo, incluindo na China, se desaceleram, mas os preços do petróleo e de outras commodities subiram ainda mais. A demanda não explica sozinha os aumentos de preços", disse Frankel.

Exportando inflação
Pela teoria monetarista, os governos e os seus Bancos Centrais, quando querem controlar a inflação, costumam subir os juros e retirar dinheiro de circulação por meio da colocação de títulos de sua dívida. O custo é aumentar o endividamento.
A equação só não é totalmente verdadeira para os EUA, donos da máquina que imprime dólares, aceitos em todo o mundo. Ante a necessidade de reduzir a liquidez no país, em vez de subir juros e emitir títulos, os EUA podem liberar a importação. Com isso, conseguem ajustar a oferta do mercado com a demanda e ainda mandam dólares para o exterior, retirando dinheiro de circulação.
"À medida que os EUA ejetam moeda para fora, também reduzem a liquidez interna. Você ajusta não só o lado da oferta como cria a redução da demanda. Essa prática do governo americano é o que chamamos de "exportar inflação". A inflação deles. Qual o problema que ele cria? Aumenta a liquidez de dólar nos mercados mundiais", disse o economista Otto Nogami, do Ibmec-SP.
Para o ex-ministro Delfim Netto, esse aumento de dólares nos emergentes, resultado do chamado duplo déficit americano -comercial e fiscal-, explica parte da inflação atual.
"Os BCs estão numa situação curiosa. Eles causaram uma parte dessa confusão porque mantiveram as taxas de juros muito baixas, permitiram patifaria no sistema financeiro e aumentaram a liquidez de maneira assustadora. Na verdade, eles financiaram essa elevação de preços", disse.

Desvalorização
Delfim lembra que o dólar perdeu 40% de seu poder de compra em relação ao euro só nos últimos quatro anos, e as commodities assumiram um papel de "hedge" [proteção] contra essa desvalorização.
"O maior efeito dos EUA sobre essa elevação dos preços é a desvalorização do dólar. Ela deve explicar uns 40% do aumento do preço dos alimentos. O árabe quer vender o petróleo com correção monetária. Ele quer que o barril de petróleo compre a mesma coisa que comprava antes em dólares. Como o dólar está caindo, eles têm de subir o preço. É tão simples quanto isso", disse.
Para Italo Lombardi, economista da consultoria americana RGE Monitor, a discussão sobre quem exporta inflação para quem perdeu sua relevância na atualidade. Ele afirma que não há consenso se o petróleo sobe porque o dólar se desvaloriza ou se acontece o contrário.
"Esse assunto vem e volta com bastante freqüência aqui nos EUA. Muita gente apostava na recuperação do dólar, pelo menos, até o último discurso do Ben Bernanke [presidente do Fed]. O Fed deu indicações de que não deve elevar juros, o que enfraquece o dólar. E tinha motivos para o dólar voltar a subir, como um crescimento maior nos EUA do que na Europa."
"Como ajustar? Com juro maior também nos EUA. A taxa maior faz com que o excedente de dólares flua novamente em direção aos EUA. Isso aumenta a liquidez do mercado americano", afirma Nogami.