segunda-feira, 11 de maio de 2009

Solidariedade?!? Só pra quem tem olhos azuis

 

Cadê a solidariedade com o Nordeste?

Atualizado em 11 de maio de 2009 às 16:11 | Publicado em 11 de maio de 2009 às 10:35

por Luiz Carlos Azenha

O dilúvio no Nordeste revelou, como notou o jornalista Vitor Hugo Soares, aqui, a miséria da região atingida, especialmente da capitania hereditária da família Sarney.

Um colega jornalista, que acaba de voltar de lá, se disse assustado com uma certa cleptocracia que atua no Maranhão sob a proteção de uma espécie de guarda pretoriana.

Podemos dizer, sem medo de errar, que essa cleptocracia ganhou vida com os acordos políticos que a levaram ao poder na coalizão que elegeu Lula em 2002.

Sim, sim, compreendo que no Brasil quem não fizer alianças não sobrevive. Fico imaginando as alianças que o grande estrategista de "certa" esquerda, José Dirceu, anda aprontando nos bastidores. Ele quer eleger Dilma, com certeza, especialmente amarrada em alianças que preservem o poder dele, José Dirceu, nos bastidores. Bastidores. Nossa "cleptodemocracia", como bem definiu o juiz Fausto De Sanctis, é uma cleptodemocracia de bastidores.

Voltemos ao governo Lula. Terão sido oito anos de poder em 2010. Tempo mais do que suficiente para, querendo, desmontar a armadilha que obrigou o presidente a fazer os acordos espúrios de 2002. Não foi isso o que se viu. A lógica permaneceu absolutamente a mesma: a opção por fazer acordos de bastidores. Não houve reforma política. Não houve iniciativa séria, a não ser aos 44 minutos do segundo tempo, para equilibrar o poder das oligarquias regionais, centrado no controle dos meios de comunicação.

Sim, eu sei que o governo Lula nunca pretendeu ser mais do que reformista. Sei que fazer o que fez, num país conservador como o Brasil, não foi moleza.

Meu ponto é que ele se vê, por circunstâncias políticas com as quais colaborou, refém de alguns dos setores mais atrasados do país, representados por Sarney et caterva.

Os tucanos, hipócritas, agora se dizem defensores do Bolsa Família desde criancinhas. Leia aqui.

A mídia faz o trabalho de demonizar o Congresso, na esteira do qual José Serra virá com um discurso moralizador, de entrada fortíssima na classe média, especialmente quando do outro lado estão... Sarney e o mordomo de filme de terror, aliados do governo Lula.

Isso está cada vez mais parecido com o acordo de Punto Fijo, através do qual a AD e o Copei se revezaram no governo da Venezuela. O roto e o rasgado. A cleptodemocracia.

PS: E a solidariedade com os atingidos pelas enchentes no Nordeste?  Onde é que andam as campanhas? Sobrou alguma solidariedade depois das enchentes de Santa Catarina? Ou é mais fácil ser solidário com os brancos de olhos azuis? Por que a gripe suína, que não matou ninguém no Brasil, merece mais cobertura que mais de 40 mortos pelas enchente no Nordeste?

domingo, 10 de maio de 2009

Palavras do Camarada Fidel

Outra vez a OEA podre

A agência de notícias alemã DPA divulgou ontem que a Comissão de Direitos Humanos da OEA aprovou um relatório assinalando que Cuba "continua violando" os direitos fundamentais ao manter as "restrições" ao direitos políticos e civis da população, além de ser o "único" país da região onde não há liberdade de expressão alguma.

Nessa instituição podre existe uma Comissão de Direitos Humanos? Sim, existe. Qual é sua missão? Julgar a situação dos direitos humanos nos países membros da OEA. Os Estados Unidos são membros dessa instituição? Sim, um dos mais honráveis. Foram condenados alguma vez? Não, jamais. Nem mesmo pelos crimes de genocídio cometidos por Bush, que custaram a vida de milhões de pessoas? Não, nunca, como vão cometer essa injustiça!? Nem mesmo pelas torturas da base de Guantánamo? Que a gente saiba, nem uma palavra.

Conseguimos pela internet cópia do relatório sobre Cuba. Lixo puro. Se dedica à propaganda contrarrevolucionária. É amplo, no estilo dos do Departamento de Estado, paradigma político e chefe da OEA. Com quanta razão Roa chamou a OEA de Ministério das Colônias ianque!

Cabe perguntar a essa desavergonhada instituição: se fomos expulsos da OEA por proclamar nossas convicções e não somos membros da instituição, com que direito deve julgar-nos? Faria o mesmo com a República da China, o Vietnã ou outros países que como Cuba proclamaram sua adesão aos princípios marxistas-leninistas?

A OEA deveria saber faz tempo que não fazemos parte dessa igreja, não compatilhamos esse catecismo. Partimos de posições diferentes. Se falamos de liberdade de expressão, devemos recordar que em nosso país não se reconhece a propriedade privada dos meios de comunicação. Foram sempre os proprietários destes que determinaram o que se escrevia, quem escrevia, o que se transmitia ou não, o que se exibia ou não. Os analfabetos ou semi-analfabetos não podem fazê-lo e durante centenas de anos, enquanto reinou o colonialismo e se desenvolveu o sistema capitalista desde que foi inventada a imprensa, 4/5 da população não sabiam ler ou escrever, não existia educação pública e gratuita.

São evidentes os esforços que o Pentágono realiza para monopolizar a informação e as redes da internet. No nosso país se bloqueia o acesso a essas fontes. Seria melhor que a CIDH desse conta ao mundo dos recursos que sua burocracia gasta com besteiras, em vez de analisar a realidade e informar aos países da América Latina sobre os gravíssimos perigos que ameaçam a liberdade de expressão de todos os povos do planeta.

Para questionar o papel de Cuba nesse terreno, teria que começar a reconhecer, sem ambiguidades, que esta é a nação que mais fez pela educação, ciência e cultura, entre todos os povos do planeta, e seu exemplo é seguido hoje por outros governos revolucionários e progressistas. Se têm alguma dúvida, perguntem às Nações Unidas.

Nesse hemisf'erio os pobres jamais tiveram liberdade de expressão, porque nunca receberam educação de qualidade e os conhecimentos eram reservados unicamente às elites privilegiadas burguesas. Não culpem agora a Venezuela, que tanto fez pela educação depois da República Bolivariana, nem à República do Haiti, abatida pela pobreza, doenças e catástrofes naturais, como se essas fossem as condições ideais para a liberdade de expressão que proclama a OEA.

Façam o que faz Cuba: ajudem primeiro a formar maciçamente pessoal de saúde com qualidade, enviem médicos revolucionários aos mais distantes rincões do país, que contribuem em primeiro lugar com a preservação da vida; transmitam aos povos programas e experiências de educação; exijam que as instituições financeiras do mundo desenvolvido e rico enviem recursos para construir escolas, formar professores, produzir medicamentos, desenvolver sua agricultura e sua indústria; depois, falem dos direitos do homem.

Fidel Castro Ruz

Mayo 8 de 2009
12 y 14 p.m.

Saramago e a gripe suína: Quem manda é a indústria

 

Retirado do Blog do Azennha (www.viomundo.com.br) - Atualizado em 10 de maio de 2009 às 07:33 | Publicado em 10 de maio de 2009 às 07:26

por José Saramago, em seu blog

Não sei nada do assunto e a experiência directa de haver convivido com porcos na infância e na adolescência não me serve de nada. Aquilo era mais uma família híbrida de humanos e animais que outra coisa.

Mas leio com atenção os jornais, ouço e vejo as reportagens da rádio e da televisão, e, graças a alguma leitura providencial que me tem ajudado a compreender melhor os bastidores das causas primeiras da anunciada pandemia, talvez possa trazer aqui algum dado que esclareça por sua vez o leitor. Há muito tempo que os especialistas em virologia estão convencidos de que o sistema de agricultura intensiva da China meridional foi o principal vector da mutação gripal: tanto da "deriva" estacional como do episódico "intercâmbio" genómico.

Há já seis anos que a revista Science publicava um artigo importante em que mostrava que, depois de anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte havia dado um salto evolutivo vertiginoso. A industrialização, por grandes empresas, da produção pecuária rompeu o que até então tinha sido o monopólio natural da China na evolução da gripe.

Nas últimas décadas, o sector pecuário transformou-se em algo que se parece mais à indústria petroquímica que à bucólica quinta familiar que os livros de texto na escola se comprazem em descrever…

Em 1966, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de suínos distribuídos por um milhão de granjas. Actualmente, 65 milhões de porcos concentram-se em 65.000 instalações.

Isso significou passar das antigas pocilgas aos ciclópicos infernos fecais de hoje, nos quais, entre o esterco e sob um calor sufocante, prontos para intercambiar agente patogénicos à velocidade do raio, se amontoam dezenas de milhões de animais com mais do que debilitados sistemas imunitários.

Não será, certamente, a única causa, mas não poderá ser ignorada. Voltarei ao assunto.

*****

Continuemos. No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre a "produção animal em granjas industriais, onde se chamava a atenção para o grave perigo de que a contínua circulação de vírus, característica das enormes varas ou rebanhos, aumentasse as possibilidades de aparecimento de novos vírus por processos de mutação ou de recombinação que poderiam gerar vírus mais eficientes na transmissão entre humanos".

A comissão alertou também para o facto de que o uso promíscuo de antibióticos nas fábricas porcinas – mais barato que em ambientes humanos – estava proporcionando o auge de infecções estafilocócicas resistentes, ao mesmo tempo que as descargas residuais geravam manifestações de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou milhares de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).

Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente patogénico teria que enfrentar-se ao monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e ganadeiros, como Smithfield Farms (suíno e vacum) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática das suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas umas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento dos investigadores que cooperaram com a comissão.

Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como o gigante avícola Charoen Pokphand, radicado em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre o seu papel na propagação da gripe aviária no Sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do surto da gripe suína esbarre contra a pétrea muralha da indústria do porco.

Isso não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o rumor de um epicentro da gripe situado numa gigantesca filial de Smithfield no estado de Veracruz. Mas o mais importante é o bosque, não as árvores: a fracassada estratégia antipandémica da Organização Mundial de Saúde, o progressivo deterioramento da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industralizada e ecologicamente sem discernimento.

Como se observa, os contágios são muito mais complicados que entrar um vírus presumivelmente mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das grandes empresas. Tudo está contagiando tudo. A primeira morte, há longo tempo, foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se honradez a uma transnacional? Quem nos acode?