quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Azenha: Hondura mostra a cara dos nossos democratas...

Do blog do Azenha... (www.viomundo.com.br)

Honduras: A crise é boa, para expor nossos "democratas"

Atualizado em 23 de setembro de 2009 às 19:32 | Publicado em 23 de
setembro de 2009 às 19:21

Existem pontos positivos na cobertura que a mídia brasileira faz dos
acontecimentos em Honduras. O primeiro deles é revelar a completa
ignorância de muitos sobre a América Latina. O segundo é de iluminar o
caráter "democrático" de alguns jornalistas e políticos.

Tive o prazer de conhecer alguma coisa da América Central. Já estive
no Panamá, na Costa Rica, em El Salvador e em Honduras.

Em Honduras fiz reportagens sobre a "guerra do futebol" e sobre a
epidemia de AIDS. Fui a Tegucigalpa e a San Pedro Sula. Viajei pelo
interior. Os militares sempre tiveram papel central na política
hondurenha. Promoveram uma política de extermínio contra os
"campesinos", quando estes aderiram aos movimentos populares que em
países vizinhos resultaram em guerras civis (El Salvador e Nicarágua).

Como em outros países da região, os anos 70 e 80 em Honduras foram
marcados por rápida urbanização e por uma explosão das demandas
sociais. A imigração para os Estados Unidos funcionou como válvula de
escape. Depois que os Estados Unidos, no governo Reagan, deram forte
apoio às elites locais na suposta luta anticomunista -- na verdade,
para esmagar movimentos populares --, Washington resolveu adotar uma
política regional de pacificação econômica.

Os americanos promoveram uma área de livre comércio regional. As
maquilas se disseminaram. São as "maquiladoras", ou maquiadoras,
empresas que tiram proveito da área de livre comércio para montar
produtos que recebem vantagem tarifária para ingressar no mercado dos
Estados Unidos. Os capitais vieram da Ásia, especialmente de Taiwan e
da Coréia do Sul. Qual é o papel dos centro-americanos nessa história?
O de mão-de-obra barata. Qual é o papel das elites locais? Além de se
associar ao capital estrangeiro para enriquecer, cabe a elas garantir
que os trabalhadores não se sindicalizem e não obtenham conquistas
sociais. As condições de trabalho nas maquiladoras são pré-revolução
industrial.

A equação era essa: os homens imigravam para os Estados Unidos para
fazer o papel de derrubar o salário dos trabalhadores americanos. As
mulheres serviam às maquiladoras em condições sub-humanas.

Porém, com a crise econômica nos Estados Unidos, esse modelo ruiu.
Muitos pais de família hondurenhos perderam o emprego nos Estados
Unidos. A caça aos imigrantes promovida pelos republicanos também os
afetou. Nas economias dependentes de remessa de dólares a crise se
aprofundou. Manuel Zelaya abandonou antigos aliados em nome de romper
com esse modelo, no qual Honduras entra apenas com o trabalho servil
de seus homens e mulheres.

Portanto, não se trata apenas de dizer que Manuel Zelaya é o
presidente constitucional de Honduras, eleito pela maioria dos
eleitores e que o governo golpista é ilegítimo e ilegal. É importante
expor claramente quem são os golpistas, a quem servem: àqueles que
querem manter os hondurenhos numa servidão pré-Getúlio Vargas. Só
assim para expor a elite brasileira da maneira como ela precisa ser
exposta: como representação verde-amarela de interesses parecidos com
aqueles representados pelos afrikâners, que inventaram um sistema
sofisticado para fazer o mesmo que a elite hondurenha faz: manter
parte da população -- no caso da África do Sul, os negros; no caso de
Honduras, os "campesinos" -- na servidão.

domingo, 20 de setembro de 2009

Nota do MST sobre CPI

A força das nossas mobilizações e o avanço das conquistas dos
trabalhadores Sem Terra causaram uma forte reação do latifúndio, do
agronegócio, da mídia burguesa e dos setores mais conservadores da
sociedade brasileira contra os movimentos sociais do campo, em
especial o MST, principalmente por conta do anúncio da atualização dos
índices de produtividade da terra pelo governo Lula.

Denunciamos que a CPI contra o MST é uma represália às nossas lutas e
à bandeira da revisão dos índices de produtividade. Para isso, foi
criado um instrumento político e ideológico para os setores mais
conservadores do país contra o nosso movimento. Essa é a terceira CPI
instalada no Congresso Nacional contra o MST nos últimos cinco anos.
Além disso, alertamos que será utilizada para atingir os setores mais
comprometidos com os interesses populares no governo federal.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), os deputados federais Ronaldo Caiado
(DEM-GO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), líderes da bancada ruralista no
Congresso Nacional, não admitem que seja cumprida a Constituição
Federal de 1988 e a Lei Agrária, de fevereiro de 1993, assinada pelo
presidente Itamar Franco, que determina que "os parâmetros, índices e
indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados,
periodicamente, de modo a levar em conta o progresso científico e
tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional".

Os parâmetros vigentes para as desapropriações de áreas rurais têm
como base dados do censo agrário de 1975. Em 30 anos, a agricultura
passou por mudanças tecnológicas e químicas que aumentaram a
produtividade média por hectare. Por que o agronegócio tem tanto medo
da mudança nos índices?

A atualização dos índices de produtividade da terra significa nada
mais do que cumprir a Constituição Federal, que protege justamente
aqueles que de fato são produtores rurais. Os proprietários rurais que
produzem acima da média por região e respeitam a legislação
trabalhista e ambiental não poderão ser desapropriados, assim como os
pequenos e médios proprietários que possuem menos de 500 hectares,
como determina a Constituição.

A revisão terá um peso pequeno para a Reforma Agrária. A Constituição
determina que, além da produtividade, sejam desapropriadas também
áreas que não cumprem a legislação trabalhista e ambiental, o que vem
sendo descumprido pelo Estado brasileiro. Mesmo assim, o latifúndio e
o agronegócio não admitem essa mudança.

Os setores mais conservadores da sociedade não admitem a existência de
um movimento popular com legitimidade na sociedade, que organiza
trabalhadores rurais para a luta pela Reforma Agrária e contra a
pobreza no campo. Em 25 anos, tentaram destruir o nosso movimento por
meio da violência de grupos armados contratados por latifundiários, da
perseguição dos órgãos repressores do Estado e de setores do Poder
Judiciário, da criminalização pela mídia burguesa e até mesmo com
CPIs.

Apesar disso, resistimos e vamos continuar a organizar os
trabalhadores pobres do campo para a luta pela Reforma Agrária, um
novo modelo agrícola, direitos sociais e transformações estruturais no
país que criem condições para o desenvolvimento nacional com justiça
social.

SECRETARIA NACIONAL DO MST
16 de setembro de 2009