sábado, 28 de março de 2009

Um outro Brasil é possível!

Durante boa parte do Governo Lula ouviu-se de diversos setores a tese de que era um governo em disputa e que as forças de esquerda poderiam em algum fazer prevalecer suas teses. Com o passar do tempo, uns mais cedo outros mais tarde, a militância de esquerda, socialista, revolucionária, reformista ou apenas nacionalista foi abandonando o barco. Os que ficaram mantiveram, alguns ainda mantém, a tese da disputa, não mais por um projeto transformador para a sociedade brasileira, mas a fim de se evitar retrocessos.

Não estou aqui a negar eventuais avanços pontuais da gestão do atual presidente. Ao contrário das críticas da chamada esquerda radical, da qual faço parte, acho o Bolsa Família uma iniciativa formidável, passível de muitos aperfeiçoamentos, mas ainda assim um passo importante na direção de um programa de renda básica. As minhas reticências aparecem no outro lado da moeda, o Bolsa Banqueiro (montante do orçamento da União destinado a pagamentos de juros e amortizações da dívida pública, dívida esta de origem duvidosa), que recebe aportes cada vez mais generosos e constrange o país a um ajuste fiscal permanente.

É cruel que quando a crise econômica mundial lança suas sombras sobre o Brasil, o governo encurralado por uma mídia golpista e conservadora adota uma política fiscal e monetária recessiva, ou eufemisticamente limitada – parece que a história econômica (e não os modelos acadêmicos) não lhes ensinou nada.

Sonhos como o da reforma agrária foram sepultados quando os usineiros, a versão recauchutada dos velhos coronéis, viram heróis nacionais. Um governo que vê no agronegócio, justo o setor mais afetado pela crise, o projeto ideal de desenvolvimento rural brasileiro.

E deslocando da seara econômica para a política (ou policial, dá quase no mesmo), assistimos passivamente o atual governo cada vez mais assemelhado com o do seu antecessor. Daniel Dantas, o banqueiro-bandido, é o senhor do castelo, aquele que dita as regras do jogo, mandando e desmandando nos três poderes da república.

E neste cenário, as forças conservadoras organizam-se com vigor apoiadas de maneira entusiasmada pela imprensa burguesa. Eles não veem a hora de reassumir o que, no seu entendimento lhes é de direito e encerrar com a heresia de um trabalhador braçal na Presidência da República – ainda que seu Governo lhes afronte mais pelo simbolismo do que pelas ações práticas.

Neste cenário, a burguesia conta com duas, talvez três, pré-candidaturas para a disputa eleitoral que se avizinha em 2010. Serra ou Aécio como força principal, e Ciro Gomes, numa espécie de estepe. Enquanto isso os petistas lançam a candidatura da Ministra Chefe da Casa Civil, não como uma retomada de seu projeto popular, mas num aprofundamento das relações com os setores da burguesia que já lhes são simpáticos (ou pelo menos tolerantes). Em resumo, todas as alternativas que passíveis de triunfo no próximo pleito presidencial condizem a projetos de manutenção do modelo vigente, ainda que com mudança do perfil do gestor.

Neste cenário, constrói-se um clima de terrorismo onde somos constrangidos a escolher entre os tucanos e os petistas. E considerando a tragédia que foi o governo FHC, o medo do tucanato leva os setores progressistas a desembarcarem na candidatura Dilma. Enquanto isso, na esquerda radical, temos como única candidatura relevante a da ex-senadora Heloisa Helena, que parece mais uma justiceira do que porta voz dos interesses dos trabalhadores brasileiros, com seu discurso, em 2006, quase monotônico na questão da corrupção, desperdiçando uma oportunidade histórica de diferenciação de projetos naquele pleito.

A Internacional Socialista nos conclama: “Paz entre nós, guerra aos senhores”. Neste sentido, é necessário a construção de um nome que una os setores progressistas e vá além do campo que compôs a frente de esquerda na última eleição. Um nome que tenha por trás um movimento de massas real. Um nome que possamos fazer uma verdadeira candidatura de educação popular, a vitória é secundária. Se formos bem-sucedidos na empreitada, poderemos fazer a sociedade brasileira entender que existem outros caminhos além do tucanato estrelado. Um outro Brasil é possível, João Pedro Stédile para presidente.

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